Exposição Entre

Nos últimos tempos, a população mundial tem acompanhado a realidade dramática das migrações forçadas e do refúgio de milhões de pessoas ao redor do planeta. No Brasil, desde 2017, a situação migratória venezuelana vem aumentando substancialmente por conta da grave crise política e humanitária na Venezuela. Diversas pessoas tomam a decisão de enfrentar a difícil tarefa de migrar ou de se refugiar em uma terra desconhecida, para garantir condições de sobrevivência.

Em janeiro de 2020, ou seja, antes da pandemia causada pela COVID-19, o fotógrafo Dimas Oliveira colheu registros entre essas pessoas na região norte do Brasil, que agora são apresentados nesta exposição.

A partir das imagens, o fotógrafo pretende apresentar a realidade das pessoas migrantes e refugiadas em um país de dimensões continentais, mas, principalmente, deseja que, por meio da contemplação dos olhares dessas pessoas, os espectadores percebam o outro, a outra, para que, através da perspectiva da alteridade, as atitudes humanas sejam ressignificadas eticamente.

O surpreendente encontro com outrem deve desinstalar, interpelar, a ponto de descentrar a pessoa daquela lógica previamente estabelecida sugerida pelos padrões do já sabido, do conhecido e até mesmo do esperado. Em uma sociedade contemporânea marcada pelo individualismo, a partir do exercício de tomada consciência do Rosto de alguém que não sou eu, há a possibilidade de uma nova compreensão da própria subjetividade humana, e também de uma nova maneira de organizar a vida social, política, cultural e planetária.

Mesmo que a cultura pós-moderna, por meio de seus mecanismos, dificulte essa concepção ética que leva em conta a alteridade, “Entre” se propõe como uma provocação em meio a uma sociedade que tem preferido a polarização de ideias e a divisão ao reconhecimento e à busca de consenso durante o encontro com o outro, com a outra, no horizonte universal do Bem.

Os nacionalismos fechados e agressivos e o individualismo radical desagregam ou dividem o ‘nós’. O preço mais alto é pago por aqueles que mais facilmente se podem tornar os outros: os estrangeiros, os migrantes, os marginalizados, que habitam as periferias existenciais.

PAPA FRANCISCO

Manaus, AM

Em janeiro de 2020, os migrantes viviam em condições precárias em um antigo conjunto habitacional, que foi cedido pela prefeitura. A assistência oferecida por ela era muito limitada e as famílias sofriam com a falta de recursos básicos, tal como água e comida.

“Aqui havia um fogão semi-industrial de seis bocas, que foi danificado, e agora há somente um fogãozinho de quatro bocas, de casa, para atender um bloco com muitas famílias.”

Wesley Oliveira, SJ

 

Paracaima, RR

“Fomos tentando ver a realidade e o que nós poderíamos fazer, para que esse povo, essa população que está vindo com uma esperança de vida tivesse alguma coisa melhor(…) Porque para nós, assim, ao menos eu tenho muito presente o povo no deserto: aquele povo que vem e que está em busca de uma terra prometida, de algo melhor, que tem uma esperança, mas que passa por muitas coisas, que às vezes, vão fazendo com que eles percam a esperança. E chegando aqui, eles não encontram muita estrutura para uma vida, para a realização de um sonho.”

Ana Maria da Silva, ISJ – Freira

Paracaima, RR

“Hoje, você chega na cidade e não vê muito os venezuelanos tanto na rua, mas se você vai um pouco além nas beiradas, nas periferias, nos buracos de Paracaima, você encontra as famílias (…) vivendo em situação de risco, de muita pobreza. Quer dizer, eles foram tirados, sacados da cidade para as beiradas. É muito triste porque são nossos irmãos…é a vida e a vida não é respeitada. Então nós estamos nessa, lutando e tentando fazer com que a vida seja valorizada e que eles possam ter seus direitos… direito a viver. Que a sua esperança de uma terra melhor seja possibilitada.”

Ana Maria da Silva, ISJ – Freira

Sem a reabilitação do Outro estamos todos fadados a devastação da terra, do estrangeiro, dos vulneráveis, enfim, de nossa própria existência pessoal.

NILO RIBEIRO JUNIOR, SJ

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Você conhece o Serviço Jesuíta a Migrantes e Refugiados do Brasil?

Organizado em 50 países, o Serviço Jesuíta a Migrantes e Refugiados (SJMR) é a maior rede católica do mundo especializada em migração, deslocamento forçado e refúgio. Tem beneficiado milhares de pessoas com a prestação de serviços gratuitos, intervenções emergenciais, proteção, projetos de educação, integração, apoio psicossocial e pastoral.

A instituição atua em favor de um maior acolhimento e hospitalidade da sociedade brasileira aos migrantes e refugiados, promovendo e protegendo sua dignidade e direitos e acompanhando seu processo de inclusão e autonomia. No Brasil, SJMR conta com cinco escritórios: Brasília (DF), Belo Horizonte (MG), Boa Vista (RR), Manaus (AM) e Porto Alegre (RS).