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A área de Linguagens e o desenvolvimento de competências

Por Rudney Soares de Souza, Coordenador de Língua Portuguesa do Colégio São Luís e Doutor em Língua Portuguesa pela PUC-SP*

O Colégio São Luís, com base no PEC (Projeto Educativo Comum da Rede Jesuíta de Educação), cuja orientação máxima é a formação integral da pessoa humana, tem implementado, desde 2015, uma série de inovações na área acadêmica, sobretudo em Linguagens, área que coordeno e que abarca os componentes Língua Portuguesa, Arte e Educação Física.

Instaurar um ambiente de formação integral e, assim, motivar, por meio das múltiplas linguagens, o fascínio dos estudantes pelo universo da palavra, numa época em que, como diria Zygmunt Bauman, sociólogo e filósofo polonês, as coisas e as relações mostram-se tão líquidas, são desafios perenes das escolas de um modo geral.

Muito por isso, no CSL, as linguagens são recursos para o desenvolvimento das competências necessárias para impulsionar a inserção de nossos estudantes como agentes na sociedade.

As práticas de escrita e de leitura, por exemplo, são pilares da Matriz Curricular de Língua Portuguesa do CSL – da Educação Infantil, fase em que os estudantes têm contato mais lúdico com a força da linguagem – aos Ensinos Fundamental e Médio, estágios em que a leitura deve ser mais proficiente e a escrita inscreve-se como ato discursivo que visa a demonstrar que tanto quem escreve consegue articular pensamentos, objetos do conhecimento e posicionamentos dos mais diversos para expressar-se e agir no mundo. 

“[…] no CSL, as linguagens são recursos para o desenvolvimento das competências necessárias para impulsionar a inserção de nossos estudantes como agentes na sociedade”

Desde pequenos, nossos estudantes são colocados em contato com a escrita e produzem vários textos, individuais e coletivos, ao longo dos trimestres; no Ensino Médio, escrevem mais de cinquenta textos por ano.

Há que se garantir não só a quantidade de textos produzidos, o que propicia contato com os mais variados gêneros textuais, mas também, e principalmente, a qualidade das produções, haja vista a exigência cada vez maior dos exames de universidades nacionais e internacionais. Nesse sentido, a fim de qualificar e tornar a análise dos textos mais próxima do que acontece nos exames reais, constituímos uma equipe externa de corretores, responsável pela correção “às cegas” de parte dos textos produzidos pelos estudantes.

Essa equipe externa é composta por profissionais altamente qualificados. Todos são corretores que atuaram nas mais exigentes bancas de correção de redação do país, tais como FUVEST, Unicamp, PUC-SP, Cásper Líbero, ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio) etc. O trabalho deles busca, por meio de correções rigorosas e relatórios precisos, qualificar a produção de nossos estudantes.

Nosso objetivo não é só preparar os alunos para o ENEM e os vestibulares, mas também, e principalmente, formar sujeitos autores de seu próprio texto e de sua vida, repertoriados e críticos. Para tanto, nas palavras de Lilian Passarelli, docente da PUC-SP, “aliamos o lúdico ao processual”.

Nossos docentes são a força motriz de todo o processo. São regentes, especialistas, mestres e doutores que passam quatro horas por semana em formação para garantir a qualidade do trabalho. Nesses períodos de formação, dentre muitas outras ações, discutimos vertentes teóricas, elaboramos rubricas e produzimos propostas que estabeleçam conexões com outros componentes. No que se refere à Redação, o desafio maior é fazer com que o texto produzido em contexto escolar tenha finalidade social, ou seja, faz-se necessário estabelecer um interlocutor real, para que as estratégias, descritivas, narrativas ou argumentativas, sejam milimetricamente pensadas e concretamente postas no texto.

Nesse contexto, as aulas de Análise Linguística devem acontecer sempre com as de Redação, de modo que os elementos da gramática se tornam recursos para o texto do estudante, e não um mero conjunto de regras a serem decoradas para uma prova.

As propostas de produção de texto são sempre divididas em: processual, exame e criativa. As processuais são individuais e produzidas em três etapas – projeto de texto, versão inicial e versão final; os exames, também individuais, são feitos em dias específicos, nos mesmos moldes do ENEM e dos exames vestibulares; as criativas, sempre construídas de modo colaborativo, são elaboradas em várias etapas ao longo dos trimestres e o resultado é sempre apresentado oralmente, em grupo, na forma de exposição, seminário, debate, fórum etc. A ideia é fazer com que nossos alunos e nossas alunas simulem situações reais em que não basta saber escrever, é preciso saber defender o seu ponto de vista e estabelecer empatia com seu interlocutor, já que a finalidade primeira de um texto, oral ou escrito, é poder ser compreendido pelo outro.

Nas produções processuais e nas criativas, há o que denominamos “lógica das duas versões”, ou seja, um texto não pode ter sua versão inicial avaliada de maneira definitiva, uma vez que, a rigor, um escritor, posto em situação de prova, sem nenhum tipo de consulta, apenas “ensaia” suas ideias, objetivando aprofundá-las e retomá-las numa escritura futura que, organizada, mostrará o estilo, a complexidade de seus pensamentos e as marcas de seu posicionamento que, segundo Dominique Maingueneau, linguista francês, é uma das categorias que torna o texto um discurso, lugar que pressupõe rastros de autoria de quem o produz.

Na “lógica das duas versões”, o próprio estudante é o seu primeiro interlocutor, já que o texto planejado, sem consultas, na versão inicial, é corrigido, mas a nota não é considerada no computo da média final. Trata-se de um Simancol, ou seja, quem produz o texto tem uma noção nua e crua de seu desempenho, para que, na versão final, após pesquisas e conversas com seus pares, família e professores, apresente um texto mais proficiente, capaz de traduzir pensamentos e marcar posicionamentos.

Essa qualificação do trabalho na área de Linguagens fez com que nossos estudantes obtivessem melhores resultados nos exames vestibulares, principalmente no ENEM 2018, que colocou o CSL entre os vinte melhores colégios da cidade de São Paulo.

*E-mail: rudney.souza@saoluis.org