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A caminho da Tríplice Fronteira: alunos se preparam para explorar o legado jesuítico-guarani

Palestra com Padre Alberto Luna, SJ, prepara estudantes da 2ª série do EMI para Estudo de Campo, destacando a rica história das Reduções Jesuítico-Guaranis.

Conhecer o passado é o primeiro passo para entender o presente. Ainda mais quando esse passado carrega um legado centenário de fé, luta e organização social que se conecta com histórias de hoje. “Com essa compreensão, podemos considerar que temos uma luz de esperança”. Essas foram algumas das reflexões partilhadas pelo Padre Alberto Luna, SJ, em uma palestra inspiradora realizada ontem, 07 de maio, sobre as Reduções Jesuítico-Guaranis, destinada aos alunos da 2ª série do EMI. 

Pesquisador das culturas guaranis, Padre Alberto, SJ, que nasceu em Caazapá, Paraguai, e atualmente realiza sua missão em Assunção, colaborou com a preparação para o Estudo de Campo que será realizado do dia 20 ao dia 25 deste mês, na Tríplice Fronteira entre Argentina, Paraguai e Foz do Iguaçu. Ele detalhou a história das Reduções Jesuítico-Guaranis, estabelecidas entre os séculos XVII e XVIII. Essas comunidades representam um marco no encontro entre a fé cristã e as tradições indígenas. 

Ao longo de sua análise, o jesuíta explicou a interação inicial entre os europeus espanhóis e portugueses e os guaranis, povos indígenas que viviam em aldeias independentes localizadas na região sul do atual Paraguai. Essas comunidades, que tradicionalmente viviam da caça, da pesca e da agricultura, foram submetidas à escravidão imposta pela coroa espanhola e às violentas expedições das entradas e bandeiras portuguesas. Contrários a essas práticas, os primeiros jesuítas que chegaram à região se opuseram ao sistema de escravatura e buscaram estabelecer um modo de vida mais digno para os guaranis. 

(…) as Reduções foram uma tentativa significativa de proporcionar dignidade sob condições extremamente adversas. “Mostrar essa realidade pode nos ajudar a encarar os desafios atuais com esperança e determinação.

Pe. Alberto Luna, SJ.

Surgem, então, as Reduções Jesuítico-Guaranis, “uma experiência social, política, econômica, cultural e religiosa, surpreendente revolucionária para o seu tempo”, explicou o padre Alberto, SJ. Durante o Estudo de Campo, os alunos visitarão duas dessas localidades, a Redução Jesuítico-Guarani de Jesús de Tavarangue e a da Santíssima Trinidad de Paraná, ambas declaradas como patrimônio mundial da Unesco. Essa experiência lhes oferecerá a oportunidade única de mergulhar diretamente no legado cultural que influenciou a região. 

Em uma entrevista após a palestra, o padre refletiu sobre os desafios enfrentados pelos guaranis e como as Reduções tentaram construir um local para uma vida mais livre e justa. Ele enfatizou que as Reduções foram uma tentativa significativa de proporcionar dignidade sob condições extremamente adversas. “Mostrar essa realidade pode nos ajudar a encarar os desafios atuais com esperança e determinação”, explicou ele. 

Por parte dos alunos, a perspectiva também é de entusiasmo e curiosidade. Julia Daher, uma das estudantes presentes, contou que a palestra ampliou seu entendimento sobre a história da convivência entre os jesuítas e os povos indígenas. “Agora, sinto que realmente podemos apreciar e aprender muito com a experiência que teremos na Tríplice Fronteira”, comentou.

Estudo de Campo na Tríplice Fronteira

O Estudo de Campo propõe uma integração de conhecimentos que abrangem os componentes de História, Geografia, Arte, Economia e Ciências Sociais, permitindo aos estudantes uma compreensão holística dos locais que serão visitados. A viagem é desenhada para que os jovens observem, descrevam, reflitam e compreendam diversas realidades, ampliando seu horizonte acadêmico e cultural a partir da pergunta norteadora: “Qual América Latina queremos (des)construir?”. 

O fio condutor que baliza este estudo é o conceito de “Travessia”, compreendido como os trajetos que revelam a geograficidade – o modo como o homem existe no espaço – dos lugares visitados. O intuito é buscar novas sociabilidades transfronteiriças alicerçadas nos valores inacianos, nos princípios da Constituição Federal de 1988, nos parâmetros dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030 da Unesco e em pré-requisitos essenciais como democracia, respeito às diversas culturas, direitos humanos e justiça social.