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Sejamos políticos!

No mês de abril, diante da crise política, o Colégio São Luís viu a necessidade de apoiar as conversas que estavam acontecendo entre os diferentes segmentos da escola, com alguns argumentos que permitissem um verdadeiro diálogo a partir de valores de respeito e convivência na diversidade de ideias. Eis a carta enviada aos pais e responsáveis na íntegra:

O Brasil está passando por uma crise política. Desde o resultado das últimas eleições presidenciais, a agenda política passou a predominar nos noticiários e nos debates em diferentes espaços públicos e privados. Soma-se ao resultado apertado do pleito, o avanço das investigações da operação Lava Jato e a sequência de manifestações que ocuparam as ruas do país, organizadas pela sociedade civil, por movimentos sociais e sindicatos. O país encontra-se polarizado, convivendo com o andar de um processo de impeachment que obrigou os mais diversos especialistas a se posicionarem, buscando argumentos jurídicos e políticos que contentassem aqueles que estão contra e aqueles que estão a favor do impedimento da presidente da república. No coração dessa conversa está uma polêmica que tem gerado reações de diferentes tipos e intensidades.

O Colégio São Luís, além de seus funcionários e funcionárias, professores e professoras, alunos e alunas, tem seus braços ampliados chegando às famílias, aos ex-alunos e ex-alunas, e a tantas outras pessoas que, direta ou indiretamente, participam dessa instituição.  Cada uma dessas pessoas que participam desse colégio que há um século e meio vem contribuindo para a construção do país, tem uma visão e um posicionamento sobre a crise política por que passamos agora. Entendemos a riqueza dessa multiplicidade, acreditamos que possa ser uma oportunidade ímpar de aprendizado para todos, especialmente o da capacidade de dialogar com o diferente ou divergente. Por isso, no lugar de um posicionamento sobre o impeachment, queremos nos posicionar sobre o que e como podemos avançar como comunidade neste momento.

É papel de toda instituição educadora chamar a atenção para a importância da política e da democracia, algo que deve interessar a todos, independentemente de um posicionamento contra ou a favor do impedimento da atual presidente da república. Sob pena de deixar às novas gerações um vácuo de difícil reconstrução, não podemos jogar o Estado na vala comum da corrupção. É preciso reconhecer seu papel na manutenção do convívio pacífico, na produção da justiça e no direcionamento do país, em seu desenvolvimento econômico e na construção de condições de bem-estar social.

Nos últimos anos, temos visto as pessoas ocupando novamente as ruas. É verdade que de forma incipiente, esporádica. Mas o simbólico dessa ocupação é muito importante. Vimos as pessoas se encontrando, buscando cumplicidade, fortalecendo-se e assumindo para si uma responsabilidade que há muito foi deixada de lado. Mas, ao mesmo tempo que vimos as pessoas se unindo em discursos e ações, e assumindo a responsabilidade por seu país, também vimos a dificuldade de empatia, a revelação do ódio e a dificuldade de aceitar o outro.

Somos seres sociais, vivemos juntos e, ao mesmo tempo que aprendemos a conviver, desenvolvemos nossa individualidade. Não é estranho que surjam conflitos na convivência, uma vez que projetos e visões de mundo nem sempre coincidem. Mas nem por isso esses conflitos devem assumir a forma da violência. O conflito é saudável, é dele que surge a garantia da liberdade. No conflito aprendemos a respeitar o outro e a chegar a consensos. Afinal, essa é a tarefa da política, a busca de consensos.

Há uma beleza nisso. Buscar um consenso a partir de uma disputa, não significa que, ao final, todos passarão a pensar da mesma forma. Há um recuo no gesto do consenso, e com isso sempre se aprende.

Esse ódio que vimos aflorar nas ruas e em outros espaços revela o que há de pior em nós mesmos; nossa incapacidade de lidar com o dissenso e de refletir levando em conta outros pontos de vista. No ódio não aceitamos o outro e, de forma arrogante, não entendemos que precisamos do outro para poder crescer e sermos melhores.

Uma das principais características da modernidade é o sentimento de solidão. Vivemos isolados na cidade, sozinhos no meio da multidão. Nas ruas da cidade, temos a oportunidade de reconhecer a existência dos outros e buscar sentir a cumplicidade necessária a continuar.

Temos a oportunidade de lidar com o diferente nas ruas, no espaço público. Ver no outro a chance de ser melhor, a partir do convívio. É na cidade que as diferenças se afirmam e é na cidade que surge a política, entre homens e mulheres. A política não é da natureza, ela nasce entre os homens e mulheres, de suas diferenças, de seu diálogo.

Vamos aproveitar a oportunidade que a história nos oferece: sejamos políticos! Busquemos informações e reflexões, tenhamos consciência de que a democracia se faz com responsabilidade e respeito. Um novo mundo se constrói assim: a partir do agora, embebidos de nossa memória e com o olhar no futuro que queremos deixar para nossos jovens. Educar tem a ver com esse gesto político de construção e de convívio. Somos todos convidados a essa bonita tarefa: sermos políticos convivendo e aprendendo com o diferente.

Diretoria do Colégio São Luís

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