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O desafio de resolver um conflito

Alunos de 9º ano simulam a negociação para a construção de uma pousada em Paraty

Uma proposta desafiadora colocou alunos de 9º ano diante de uma situação-problema a ser resolvida por consenso: a construção de uma pousada no Saco do Mamanguá, área de proteção ambiental com águas verdes e o único fiorde tropical da costa brasileira, além da presença de diversas populações tradicionais, que mantêm um tipo específico de relação com os recursos naturais e guardam uma série de saberes.

“Planejamos a atividade a partir de vivências dos alunos no Estudo do Meio a Paraty e Ubatuba”, explica a professora Roberta Mouta, de Geografia. Na viagem, os alunos visitaram um quilombo, duas aldeias indígenas e casas de famílias caiçaras. “A experiência estabeleceu a empatia com outras realidades, ajudando-os a entender o desafio sob diferentes perspectivas ”, explica Roberta.

Divididos em grupos – que representavam os empresários, o poder público, os moradores de Paraty, os quilombolas, os caiçaras, os indígenas, os ambientalistas e a imprensa – os estudantes consideraram diversos aspectos que seriam impactados pelo empreendimento, do meio ambiente e o patrimônio socioambiental à geração de emprego, passando pela preservação das culturas locais, a segurança e a questão do valor da terra. “Estudamos as leis e aprendemos a enxergar o problema pelo ângulo de povos que eram até então muito distantes para nós”, comentou Mariana Bevilacqua. “Além disso, a simulação proporcionou muita aprendizagem no sentido de saber ouvir e argumentar”.

As negociações evoluíram por meio de uma mecânica com regras e tempos de exposição inspirados em reuniões diplomáticas e produziram um documento acordado por consenso. Por terem participado como staff da última Simulação Interna das Nações Unidas (SINU), em setembro, muitos alunos estavam familiarizados com esse tipo de exercício. “A prática mostrou aos alunos que o desafio não era sustentar o que eles achavam, mas preparar-se para saber se posicionar, superando o senso comum em direção a um acordo que preservaria os interesses fundamentais que eles defendiam”, explica a professora Sandra Vaiteka, coordenadora da série.

No primeiro dia da simulação, que mesclou as turmas 9.1 e 9.3, o acordo foi firmado em cima de uma proposta trazida pelos empresários, que repassariam por contrato 35% dos lucros aos povos locais e fariam o empreendimento numa área indicada pelos ambientalistas. “Fizemos muitas contas, considerando custos, salários dos funcionários e taxa de ocupação e o negócio seria viável”, disse o aluno Felipe Machado, do grupo dos empresários.

No segundo dia, vez das turmas 9.2 e 9.4, os ambientalistas mobilizaram a negociação e ganharam força de argumentação junto com os povos locais. De todos os modos, a solução foi um ganha-ganha, pois o negócio seria viabilizado numa escala menor, com menos impacto ambiental e social, numa área já urbanizada de Paraty. E os indígenas e quilombolas teriam uma questão antiga resolvida: a demarcação de terras para viverem, em reservas extrativistas.

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