Notícias

Roda de Leitores: um espaço para dialogar, conhecer e pensar sobre o mundo na sala de aula

Sueli Marciale, Diretora da Ed. Infantil, EF I e Integral, fala sobre a importância de construir uma comunidade de leitores e escritores na escola.

*Por Sueli Marciale, Diretora da Educação Infantil, Ensino Fundamental I e Integral do Colégio São Luís

A formação de leitores competentes tem se tornado uma questão recorrente na Educação, pois ao serem analisados os dados divulgados pela OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico) percebe-se que o Brasil ainda ocupa uma colocação relevante entre os países com o maior porcentual de estudantes com baixo desempenho em avaliações que envolvam a aferição da competência leitora. Por isso, nos últimos anos, parece haver consenso entre os professores sobre a necessidade de trabalhar com textos diversos nos diferentes componentes curriculares; disponibilizar, durante as práticas diárias, tempo para as atividades de leitura em voz alta; incentivar o empréstimo de livros na biblioteca; promover contações de histórias e rodas de leitura; entre outras estratégias para garantir que todos os alunos tenham contato com a literatura e, consequentemente, possam desenvolver o hábito de ler.

Essas mudanças, entretanto, ainda não correspondem a uma significativa melhoria na compreensão leitora e tampouco a avanços em relação à qualidade dos textos escritos pelos alunos, embora seja perceptível o maior interesse deles pelos livros e um aumento na quantidade de obras que circulam na escola e nas famílias. Não basta colocar os livros à disposição dos alunos para que compreendam a importância desses bens culturais e desenvolvam prazer pela leitura, pois amplia-se o acesso aos materiais, mas não se consideram aspectos também importantes quando se deseja formar leitores: a qualidade dos livros oferecidos e a qualidade das interações que se estabelecem entre a língua e a linguagem por meio deles nas diferentes situações de leitura.

Para gostar de ler, é preciso ler bem, ter diante de si bons materiais de leitura e situações que favoreçam um trabalho ativo de construção do sentido do texto. Isso exige planejamento de atividades, por parte de educadores, que possibilitem, entre outras coisas: compreender o que está escrito, identificando elementos explícitos e implícitos; estabelecer relações entre a obra lida e outras já conhecidas; descobrir os inúmeros sentidos que podem ser atribuídos a ela; e justificar e validar a sua leitura com base em elementos encontrados no próprio texto e em seu contexto.

Formar leitores requer, portanto, um investimento significativo na construção de um grupo que compartilha seus textos, troca impressões acerca de obras lidas e constrói um percurso leitor próprio, inicialmente mediado pelo professor e, posteriormente, seguido com autonomia.
Partindo dessa concepção, as salas de aula transformam-se em espaços de permanentes diálogos com os saberes trazidos pelas crianças, com os saberes e conhecimentos docentes e com os que vão sendo construídos cotidianamente. A sala de aula, portanto, caracteriza-se como espaço de diálogos, de ação, de conhecer e pensar sobre o mundo para além da escola.

A Roda de Leitores, implementada no Colégio São Luís, acaba sendo um desses espaços que convidam a conhecer e a pensar sobre o mundo em que nos encontramos inseridos. Essa atividade, ao ser incluída no cotidiano da classe, traz em si o potencial de ajudar a construir uma comunidade de leitores e escritores na escola. Também permite que as crianças tenham múltiplas oportunidades de explorar novos livros, escolher suas leituras, apreciar os efeitos que cada uma delas lhes traz, falar sobre essas sensações, recomendar leituras e analisar as recomendações recebidas dos colegas, a fim de seguir aquelas que parecem mais interessantes. Dessa forma, desenvolve-se, ao longo do processo, gostos e preferências por obras, gêneros e autores.

Nesse movimento da roda, os alunos aprendem a estabelecer diferenças entre o que é falado e o que é escrito, desenvolvem o prazer em ler, conhecem os diferentes gêneros textuais, apreciam a beleza da linguagem, aprendem e compreendem metáforas, ampliam vocabulário, descobrem os diferentes ilustradores e seus estilos, percebem diferentes tempos e espaços do mundo, tiram conclusões, relacionam ideias, enfim, realizam inúmeras aprendizagens e constroem variados conhecimentos.

Na Roda de Leitores vemos alunos, com pouca idade, emitindo suas opiniões, indagando sobre o que ouvem, repetindo e fazendo uso, em outras situações, das expressões usadas pelos autores e apreciando o valor estético do arranjo das palavras.
Esta circularidade como espaço/tempo é, e pode ser, proveitosa para a formação de leitores informados, curiosos, instigados, apaixonados pelas histórias, pelos lugares e pelas diferentes culturas.

Por isso, as rodas de leitura cotidianas são cuidadosamente planejadas e procuram cobrir a variedade textual e de interesse dos alunos. Mas, acima de tudo, buscam despertar o prazer de ler. A escola é somente mais um contexto no qual, a partir de dinâmicas como a roda de leitura, pode-se valorizar e enriquecer as mais diversas formas de leitura.

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
BRAKLING . Kátia L. Sobre leitura e formação de leitores: qual é a chave que se espera? EDUCAREDE: São Paulo (SP); 2003.
COSSON, R. Letramento literário: teoria e prática. São Paulo: Cortez, 2006.
COSSON, R; SOUZA, R. J. Letramento literário: uma proposta para a sala de aula. Caderno de Formação: formação de professores, didática de conteúdos. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2011, v. 2, p. 101-108. f
LERNER, Delia. Ler e escrever na escola – o real, o possível e o necessário. Porto Alegre (RS): Editora Artmed; 2002.
ROJO, Roxane. Letramento e capacidades de leitura para a cidadania. SP: 2002.
SOLÉ, Isabel. Estratégias de Leitura. Porto Alegre (RS): Artmed; 1998.
Tags

Leave a comment